Já vos falei aqui dum livro giríssimo, "Navigatio Brendani" traduzido "Navegação de S. Brandão", uma obra medieval que descobri com prazer e espanto numa feira do livro, portanto num Maio.
Tal como os eremitas do Sul procuravam o deserto para rezar e meditar, os do Norte (actual Grã-Bretanha) procuravam o mar, numa navegação sem rumo, ou por outra, tendo por rumo a vontade de Deus.
Foi o que fez S. Brandão.
E descobriu, ao fim de uma viagem de aventuras, as Ilhas Afortunadas, onde era o Paraíso Terrestre.
Durante muito tempo estas ilhas figuraram no imaginário europeu como lugares míticos e místicos. Até que as Ilhas Canárias foram descobertas. Depois do Sec XIII passaram a ser elas as Ilhas Afortunadas.
De salientar também que o conceito já existia desde a Grécia Antiga, que as situava no Oceano Atlântico. Parece-me tudo isto interessante, mas só agora vou começar a ler sobre o assunto, por exemplo, numa enorme Revista Oceanos que me ofereceram uma vez, sobre Ilhas. Será uma leitura agradável para as longas noites de Inverno.
VER WIKIVer também neste blogue (aparecerá a seguir a este post).
Creio que o poema de Pessoa tem em conta alguns destes sentidos. Vou copiá-lo para aqui do comentário em que a Carla o transcreveu, sem apagar o comentário, o que quer dizer que ficará repetido.
Ilhas afortunadas
Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutarmos, cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas se vamos dispertando,
Cala a voz, e há só o mar.
(Fernando Pessoa)