terça-feira, março 27, 2012

sábado, março 24, 2012

A partir de amanhã haverá uma surpresa para os seguidores habituais dos blogues da Nadinha

quinta-feira, março 22, 2012

O desencobrimento da Terra (monólogo)


Personagem: mulher que ora se representa a ela mesma, ora simboliza a terra portuguesa, abandonada pelos que partiram e esperando o seu regresso. As frases destacadas em negrito poderão ser acompanhadas por um côro, pois este monólogo exterior é um diálogo interior.

Todos eles partiram e eu fiquei. Fiquei aqui, nesta terra que me parecia imensa, infinita. Agora sei que é pequena, insignificante como um grão de areia ou um torrão que aperto nos meus dedos e esmago e não é nada. Todos ou quase todos eles partiram para o de lá dos mares, à procura doutros sóis, doutras luas e doutras mulheres. 
            Aqui semeio, aqui planto e colho, o pão que darei aos meus filhos que pari. Também eles me prendem, me impedem de partir além, à aventura pelos mares. Pedem-me o pão, não me pedem a água salgada do sonho marítimo, não me pedem que arrisque a minha vida nem querem que o faça, como fez o pai, como fez o avô que morreu no mar. Coisas bem mais prosaicas tenho que lhes dar, se sou mãe e se mulher me vejo. 
            Choro o meu marido que partiu p´ró mar, e eu aqui. E eu aqui, semeando e colhendo e comendo o pão, o pão salgado das minhas lágrimas mas não salgado das ondas que imagino e sonho e nunca vi, num sonho de aventura. 
            Esta terra, portugal chamada, prisão minha e teia de que sou a involuntária aranha, de que sou a aranha e a mosca, presa eu na rede dos meus próprios gestos.  
            Procriarei, criando aqui aquilo que todas criam, mesmo as fêmeas dos bichos: filhos e filhas. Rapazes que partirão para longe atrás dos outros que já foram, que morrerão talvez no fundo do mar antes de chegarem ao sonho e à aventura.  
            Salgadas, como as do mar, as minhas lágrimas, águas da minha alma, serão o fruto amargo do meu julgar o tempo.
             Esta terra que tão grande parecia na minha inocência, tão pequena a sei agora no meu limite de mulher...desencoberta. 
            Sonho e desespero e choro por todos aqueles que não são aqui, onde deviam ser, por mim que me julgava eterna e útil mas sem sina me vejo. Mãe de todos, telúrica, genésica de impérios a fazer, aqui me vejo reduzida a nada. 
            Pátria talvez perdida eu sou, mátria talvez esquecida, gero e gerando espero o que já nem sonhar ouso. De fugaz centelha me anima a Esperança às vezes, pátria sem homens que fiquei, mátria desencoberta, portugal chamada, perdida imaginada apenas e lembrada nas minhas noites e dias de infindável solidão. 
           Aqui me vêem! Nem já de terra e de ervas mas de pedra, erigida em estátua que ninguém procura, tombada na curva do caminho. Bandeira! Bandeira sem vento que a agite, sem cor que a simbolize no porvir. 
            Imagino-me pedra, indócil e vazia. 
           No meu amanhecer esperarei ainda: partiram os meus filhos, os meus amos, os meus fados e os meus todos amores. 
            Vazia, desértica até mesmo de mim, sem destino nem viagem que me espere, aguardo a serena morte de quem já não crê. O desespero me agita. Em ondas de desejo, desejo tudo e nada ouso.
            Sou aquela mulher e aquela mátria que ninguém ama já. Sem deuses, sem homens, sem gente, com a paciência de quem é terra aguardarei o regresso: a fuga de todos os lugares para a pátria-mãe, em séculos a vir. O retorno do desânimo que não é esperança já, antes começo de algo que não quero. 
            Retornarão um dia, em lama transformados de tanto querer ser água esta terra. Encherão o meu solo de imaginários lugares.  
           Contemplando-me, verão o que recordam, sonharão o que perderam. Vendo-me, verão outra.  
            Não só a que deixaram com saudade e ânsia, mas também as que encontraram lá longe e não existem mais, assim como as recordam: o império que perderam.
            O que de tudo isto restará serão eternas águas, desabitadas sempre, hostis à amestragem dos que as desejaram possuir, oceanos vazios de gente.  
            Água eu também gostaria de ser, a nunca possuída nem completamente achada. Marés transitórias que procurarão também no espaço, na lua distante e misteriosa, que de outros sonhos ocupará o meu espaço real. No espaço inconhecido sonharão a aventura outra vez, o sonho e o desejo. 
            E eu aqui, durante séculos terra despojada, aquela que em saudades recordaram, aquela que abandonada fica, aquela que ninguém ama. 
            Esperarei para sempre. Aqui, à beira do oceano, transbordante de desejos que não chegam até mim, mátria esquecida, terra desencoberta. 
            O meu não ser além é o espelho quebrado em que me miram, feita eu em pedaços de não ser outro lugar, mais ao norte ou mais ao sul, segundo a rota e o desígnio das suas intenções.
          Mátria mais ousada ou pátria mais fêmea ainda me desejariam, sempre diferente daquilo que fui, daquilo que serei nem posso ser.  
            Vendo-me, verão outra, sempre outras me verão sem me aceitarem como eu sou e fui, sem me verem a mim. 
            Mátria esquecida, terra-mãe desencoberta, contudo me sei desenhada nos mapas como qualquer outra. Os mapas me desenham e me apontam, naturalmente, à superfície da esfera que rola pelo espaço infinito: lugar nenhum, dos meus desencontrada, aqui me vejo reduzida a nada.

Lisboa, 30 de Abril de 1997
Graciete Nobre

Texto já publicado na revista TRIPLOV

sexta-feira, março 09, 2012

Paul Adolf Seehaus






Pintor alemão princípio do Sec. XX





Mas parece que é necessário saber alemão, como eu sei um nadinha, para perceber e para ter ouvido falar deste pintor alemão...

quinta-feira, março 08, 2012

A propósito do dia da Mulher, o direito à vida

Para celebrar o direito à vida (da mulher, por exemplo), nada como recordar esta belíssima ária de La Traviata: "Parigi, O Cara", quando Violetta Valéry está a morrer, cheia de esperança de viver



Parigi, o cara noi lasceremo,
la vita uniti trascorreremo.
de' corsi affanni compenso avrai,
la tua salute rifiorira'.
Sospiro e luce tu mi sarai,
tutto il futuro ne arridera'.

domingo, março 04, 2012

"Vamos rir, chorar e aprender"



O normal seria o gato comer o pássaro. Quem é bom? Quem é querido? Quem é corajoso?



Aqui, Leonardo Boff refere as conclusões do estudo do DNA, que todos, homens e animais partilhamos o DNA, afirmando que elas comprovam a mensagem de São Francisco de Assis: somos todos irmãos. Ou mesmo, somos todos UM.


 "Vamos rir, chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra."
Leonardo Boff:-Casamento entre o céu e a terra. Salamandra, Rio de Janeiro, 2001.pg09.


(P.S.:Se clicar na tag abaixo "O lobo e o cordeiro", vê outras imagens encantadoras: aparecem as mensagens todas seguidas,a começar por esta) 

quinta-feira, março 01, 2012

Vois sur ton chemin


Vois sur ton chemin
Gamins oubliés égarés
Donne leur la main
Pour les mener
Vers d'autres lendemains
REFRAIN:
Sens au coeur de la nuit
L'onde d'espoir
Ardeur de la vie
Sentier de gloire

Bonheurs enfantins
Trop vite oubliés effacés
Une lumière dorée brille sans fin
Tout au bout du chemin

REFRAIN:
Sens au coeur de la nuit
L'onde d'espoir
Ardeur de la vie
Sentier de la gloire