Assisti ontem à estreia mundia do filme "Mémoires de Goldoni" de Maurizio Scaparro, no Teatro Nacional.
Passei todo o filme à espera de ver imagens de Veneza e depois de Paris. De Paris nem uma, de Veneza quase nada.
Cheguei a casa muitas horas depois, a conjecturar no egoísmo do realizador, ao ocultar as imagens da Veneza magnífica.
E agora acorreu-me as "Cidades Invisíveis" de Italo Calvino, um dos meus livros preferidos.
Não vos sei dizer se consegui ler este livro desde o princípio até ao fim, pois isso iria privar-me de ler pela 1ª vez no futuro algumas passagens e o livro todo. Alguns dos meus livros preferidos, não os li nunca até ao fim, como é o caso de "Vers Ispaham" de Pierre Loti e outros.
Sinto um desejo tão grande de escrever, ao ler esses livros, que sou obrigada a abandoná-los mais uma vez e a pegar num papel ou num computador portátil...
E então percebi a ideia, que continuo a achar egoísta, de não mostrar Veneza:
Quando Kublai Khan pergunta a Marco Polo, nas "Cidades Invisíveis", porque é que ele descreveu inúmeras cidades belíssimas sem nunca se referir a Veneza, Marco Polo responde-lhe que esteve sempre a falar de Veneza.
De facto, quando falamos duma cidade, estamos sempre de certa forma a falar de Veneza, que é o seu contrário.
Todas as cidades são feitas de terra. Todas as cidades ficam na terra.
O filme "Mémoires de Goldoni" de Maurizio Scaparro é afinal um filme sobre a beleza de Veneza.