domingo, junho 18, 2006

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e nao estamos de maos enlaçadas.
(Enlacemos as maos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nao fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as maos, porque nao vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixoes que levantam a voz,
Nem invejas que dao movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagaos inocentes da decadencia.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as maos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Fernando Pessoa: Ricardo Reis
in http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/pessoa.html

sábado, junho 17, 2006

Mensagem secreta

Para certas e determinadas pessoas que eu conheço, quanto mais chover melhor.
Não morram de medo, que a praia aproxima-se.
A praia vem aí.

quinta-feira, junho 15, 2006

gosto do blog brasileiro, da Mariana
http://jeremias-o-bom.blogspot.com/

Santo António de Lisboa (procissão em Lisboa)

 


Antigamente os andores dos santos iam às costas ou aos ombros das pessoas, agora vão de carrinha... Posted by Picasa

segunda-feira, junho 12, 2006

Lisboa e a beleza do mundo: para a Juanola

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Mensagem secreta


O Zorro morre de saudades dos docinhos de açúcar e demais doçuras da alma. Posted by Picasa

sábado, junho 10, 2006

O último dia de aulas

Era o último dia de aulas da minha primeira classe. Eu e as outras raparigas rebentávamos de alegria, só víamos à nossa frente um futuro em que nunca mais haveria aulas.
As mais velhas, da quarta classe, muito sabidas e, sabe-se lá porquê, manhosas, disseram-nos assim:
- Hoje a nossa professora vai-se despedir de nós e vai dizer que tem muitas saudades nossas. Quando nós vos fizermos sinal, vocês começam todas a fingir que choram muito, com saudades da professora.
- Está bem!
A professora disse tudo aquilo, quase palavra por palavra, as mais velhas fizeram sinal e nós desatámos todas numa choradeira em altos gritos. Até que a professora, muito comovida também e a chorar também, disse assim:
- Ora, vocês no fundo estão todas contentes… estão só a fingir que estão tristes…
Nós, as da primeira classe, levantámos logo a cabeça com o ar mais radiante deste mundo, mas as outras faziam-nos sinal de que não era assim:
- Continuem a chorar.
E lá continuou a gritaria! Este deve ter sido o dia mais feliz da minha vida!

E também o contrário: Turner: Grand Canal (Veneza)

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Medeia De Eurípides



Só agora, que está quase no final, é que eu pude ir ver esta peça, encenada por fernanda Lapa no Teatro Nacional.
Do fundo dos tempos Eurípides fala-nos pela voz duma mulher, ou várias, mas é uma voz que conhece o mar visto do mar, as tormentas e os rochedos onde a água se quebra e tudo se despedaça.
Para fazer teatro bem é preciso conhecer tudo isto, ter conhecido o terror, ter sabido o sabor amargo dos dias amargos. E o milagre dos dias auspiciosos e felizes.
Ter conhecido o sal da água do mar e o sal da água do corpo.
Creio que Turner também mostrou tudo isto nesta e noutras obras. Posted by Picasa

sábado, junho 03, 2006

Cerejas, ou o Tempo Reencontrado


Posted by Picasa Estas cerejas são iguaizinhas às da cerejeira do meu avô, quando eu ia para cima dela com um livro: os gatos iam também, claro! E lá ficava eu a comer cerejas, a ler um livro e a brincar com os gatos, ou com um deles no meu colo.

De facto, muito nova eu aprendi sozinha a trepar a oliveiras, cerejeiras e muros. Estava convencida de que uma rapariga, se se tivesse esforçado tanto como eu, conseguiria o mesmo, no máximo, mas os rapazes, todos, obviamente, sabiam trepar a pique, a pinheiros e eucaliptos, sem ninguém lhes tivesse ensinado, enfim, era inato… era essa a principal diferença entre os rapazes e as raparigas.
Devo confessar que, como eu fazia muitas perguntas, a minha mãe me aldrabava um bocado…
Até que um dia… Oh desilusão! A primeira!
Recebemos a visita de uma pessoas do Porto, incluindo dois rapazes. Mal eles chegaram, eu trepei ao ramo mais alto da oliveira mais alta, obviamente, para mostrar que não era uma rapariga vulgar.
Empoleirada lá em cima, a princípio julguei ter visto e ouvido mal, por causa das folhas que se interpunham entre mim e os factos, mas foi assim:
Os rapazes ficaram grudados na terra, de cabeça erguida a olhar para mim, como se eu fosse um pássaro por entre as folhas e disseram:
- Nós não sabemos trepar às árvores…
Por pouco não caí despencada de lá abaixo, com o espanto de tal descoberta: os rapazes não sabiam todos, naturalmente, trepar aos eucaliptos? Então qual era a grande diferença entre os rapazes e as raparigas?
Aqui vos juro, contudo, que os moços não regressaram ao Porto sem saberem subir às cerejeiras, às oliveiras e aos muros baixos. Só a pique é que não. Porque isso era próprio de... enfim... 
Estas recordações enriquecem o meu gostar de cerejas, sobretudo estas cor-de-rosa, menos doces, mais claras, mais bonitas.

Fra Angélico: São Nicolau salva navio (pormenor)

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Fra Angélico: São Nicolau salva navio

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Fra Angélico: Vida de São Nicolau

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