terça-feira, janeiro 17, 2012

"À Fragilidade da Vida Humana"



Esse baixel nas praias derrotado
Foi nas ondas Narciso presumido
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.

Esse nácar em cinzas desatado
Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse Estio em Vesúvios encendido
Foi Zéfiro suave, em doce agrado.

Se a nau, o Sol, a rosa, a primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,


Olha, cego mortal, e considera
Que és rosa, Primavera, Sol baixel,
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.

Francisco de Vasconcelos, Fénix III

Vem agora muito a propósito este poema intitulado ""À Fragilidade da Vida Humana"", sobretudo os dois primeiros versos. É um poema muito característico da estética Barroca, em que a elaboração formal e a musicalidade conseguida desse modo, quase obscurecem o sentido, tornando-o numa espécie de adivinha. É um soneto.

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