Nome muito conhecido da culinária, sobretudo pelas deliciosas ameijoas a que deu o nome, Bulhão Pato foi também um muito conhecido, no seu tempo, poeta romântico, hoje um tanto esquecido.
Talvez injustamente.
O frio aumenta. Já silva,
Às refregas, o aquilão!
Nem no valado uma silva,
Para o cabrito saltão!
Atrás da vaca a novilha,
Já não pula na lezíra!
A mãe não sustenta a filha
Que o leite se lhe exaurira!
O boi bravo, na campina
Erguendo a fronte, pareçe
Que à Providência Divina,
Mugindo faz uma prece!
E até se dirá que tem,
Claramente, proferido
O próprio nome da mãe,
No doloroso mugido!
Sempre coisas misteriosas
Nas mais triviais verdades!…
Porque são joviais as rosas,
E tão tristes as saudades?
Canta, à tarde, um passarito —
E aquele singelo idílio,
Quem lho inspirou, do infinito,
Como um poema a Virgílio?
Trezentos mil eruditos,
Bem debruados de ateus,
Pondo esforços inauditos,
Não deitam abaixo Deus!
*
E este poema sobre a caça, intermédio entre um poema e a vontade de comer, ou mesmo cozinhar "a criação", com a Conceição.
Na jardia e no souto, a entrada não foi grande;
Nem um pombo trocaz a procurar a glande!
Porém não falta ensejo,— até à Conceição,
Para entrada real, é próspera a sazão!
Agora palestrar, em volta da lareira,
Ao grato crepitar dos tors da azinheira!
Aperta, lá por fora, o límpido nordeste;
Caça de arribação gosta do tempo agreste.
Com sessenta e mais quatro, e quatro bem contados,
Inda rompo com alma os matagais fechados!
Quero que encham ver amanhã, praguentos,
Como bate o montado, a minha Tullia, a ventos!