A varina ambulante, pregoeira de peixe por essas ruas e vielas da cidade, louvada na prosa do Ramalho, cantada nos versos do Cesário, a varina inspiradora de tantos erotismos e tantos desenhos, vai acabar dentro em breve?! Incaracteristica, nova-rica, cliente de “taxis”, calçada à fina força pelas posturas municipais, a varina ao que parece vai perder a canastra, a sua linda canastra, que tem o recorte airoso das barcas fenicias da sua terra. Conforme noticia que noutro lugar publicamos, o peixe do futuro apenas será vendido em peixarias, possivelmente por caixeiros mazombos, de batas de brim. Adeus pregões da “viva da costa”, “pescada fina do alto”, “belo carapau”, tão grato aos gatos e aos pobres!... Não mais, das mansardas, vizinhas esganiçadas perguntarão para baixo o preço do cachucho. Não mais cachuchos aos domicilios. As varinas vão-se. Como foram os aguadeiros. Como foram os cocheiros e as pilecas de praça. Outros tempos – outros aspectos. Lisboa tem destas pechas. Houve época em que toda a gente fundava uma leitaria. Havia três e quatro leitarias em cada rua. Vendiam vinho a copo. Depois, a actividade comercial de Lisboa manifestou-se especialmente nas instalações de sapatarias. Surgiram lojas de calçado por todos os cantos. Parecia e parece estarmos em terra de centopeias. Agora vamos ter peixarias. Já estamos a vê-las, com seus nomes pitorescos: Peixaria das Necessidades… Palace da Pescada em Posta… Le Poisson d’Or… E das varinas, se para com elas houver um pouco mais de complacência e de humanidade, apenas restarão dentro em pouco saudades, umas vagas imagens literárias, e maior população em terras de Ovar.
Oh, obrigada por este comentário. Realmente é engraçado referir "umas vagas imagens literárias", as varinas, de facto, inspiraram poetas e pintores. Cesário, Almada...
A Nadinha é a minha pseudo-heterónima. É a protagonista das minhas viagens marítimas, as reais e as sonhadas.
Quanto a mim, considero-me uma neófita na vida e em tudo.
Todos os textos e fotos aqui apresentados, ou são originais, ou é indicada a sua proveniência.
2 comentários:
Vão acabar as Varinas!?...
A varina ambulante, pregoeira de peixe por essas ruas e vielas da cidade, louvada na prosa do Ramalho, cantada nos versos do Cesário, a varina inspiradora de tantos erotismos e tantos desenhos, vai acabar dentro em breve?!
Incaracteristica, nova-rica, cliente de “taxis”, calçada à fina força pelas posturas municipais, a varina ao que parece vai perder a canastra, a sua linda canastra, que tem o recorte airoso das barcas fenicias da sua terra.
Conforme noticia que noutro lugar publicamos, o peixe do futuro apenas será vendido em peixarias, possivelmente por caixeiros mazombos, de batas de brim.
Adeus pregões da “viva da costa”, “pescada fina do alto”, “belo carapau”, tão grato aos gatos e aos pobres!...
Não mais, das mansardas, vizinhas esganiçadas perguntarão para baixo o preço do cachucho. Não mais cachuchos aos domicilios.
As varinas vão-se. Como foram os aguadeiros. Como foram os cocheiros e as pilecas de praça.
Outros tempos – outros aspectos.
Lisboa tem destas pechas. Houve época em que toda a gente fundava uma leitaria. Havia três e quatro leitarias em cada rua. Vendiam vinho a copo. Depois, a actividade comercial de Lisboa manifestou-se especialmente nas instalações de sapatarias. Surgiram lojas de calçado por todos os cantos. Parecia e parece estarmos em terra de centopeias.
Agora vamos ter peixarias. Já estamos a vê-las, com seus nomes pitorescos: Peixaria das Necessidades… Palace da Pescada em Posta… Le Poisson d’Or…
E das varinas, se para com elas houver um pouco mais de complacência e de humanidade, apenas restarão dentro em pouco saudades, umas vagas imagens literárias, e maior população em terras de Ovar.
Diário de Noticias – 05 de Agosto de 1930
Oh, obrigada por este comentário.
Realmente é engraçado referir "umas vagas imagens literárias", as varinas, de facto, inspiraram poetas e pintores. Cesário, Almada...
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