Era noite de Natal. Os rebanhos já tinham recolhido ao redil e os pastores, à lareira, confraternizavam cantando, comendo, bebendo e apreciando o calor do fogo, após o frio mortal que haviam vivido nas serranias.
Era uma noite de tempestade.
Só eu deambulava ainda pelas montanhas, perdido na neve, na chuva e no vento. Mas era maior o meu martírio interior, a tempestade dentro de mim. Pelo mal irreparável que tinha cometido, irremediável para sempre: eu matara um deus.
Matara um deus nascituro entre muitos milhares de crianças que mandara aniquilar. Mas as crianças e as mães das crianças e os pais das crianças e os soldados que tinham sido obrigados ao extermínio, nada disso me preocupava naquela noite de névoa, de temporal e de dor. Para mim. Herodes. Que importam essas pessoas sem valor? Quem poderia importar-se com elas? A história não, necessariamente. A História dos tempos só fala dos grandes homens e ... mal de mim, dos deuses também.Qual será o castigo para um homem que matou um deus? Talvez mesmo um Deus único...
Não acredito na vida para além da morte. Acredito no que vejo, acredito que vou ganhar muito, nesta vida, com esta eliminação de todas as crianças, para impedir que as profecias se cumpram. Neste mundo.
Mas... e se houver vida para além da morte? E se houver um só deus? E se esse único deus for esse rapazito único que eu mandei matar? E se esse deus for esse que eu mandei matar e se conseguiu sobreviver? Se for um deus verdadeiro sobreviveu, necessariamene.
E eu?
E eu, Herodes, que será de mim?
Texto em construção (Work in Progress).
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