NÚPCIAS QUÍMICAS
Coração de vidro cortei-me num sonho como um diamante
se virem um bêbado é a minha alma poeta com frio
como leva a vida morta nos seus braços a vida bacante
que só ressuscita quando afoga o bêbado na água do rio.
Gaivotas do instinto vestem-no de gala para entrar nos portos
o bêbado é bêbado o bêbado é alma nem sequer repara
que leva nos braços a deusa que ordenha o leite dos mortos
gaivotas do instinto que estranhas feições nos pintais na cara!
Que gado nocturno no pasto dos sonhos! oh bêbado oh dono
da noite que rosna! a noite é um cão se a ouvem ladrar
um cheiro a laranjas entontece os ramos da árvore do sono
e se a gente as come fica-nos o gosto de não acordar.
Vê que ainda há anjos são funcionários anjos com lunetas
por pouco eram homens não fosse as asas que trazem nos pés
enchem com o sangue que não derramaram as suas canetas
porque deus um dia virá procurá-los mesmo nos cafés.
Ouve esse piano que dantes havia num terceiro andar
ou em vez do piano a ideia dele ou ainda a jarra
não toques oh alma oh músico bêbado as teclas do mar!
que o mar é um velho piano lusíada com som de guitarra.
Espera por mim onde houver a lua e onde houver um banco
se me esperares sentado irei ter contigo num dia de festa
irei ter contigo com minha nudez de vestido branco
e se me beijares talvez uma estrela me ilumine a testa.
Espera por mim… talvez num domingo talvez a remar
Tudo colocado como num jardim um céu de magnólias
Espera por mim como se existisse um bosque no ar
onde os nossos olhos vão colher amoras.
Natália Correia
4 comentários:
Acho muito lindo este poema, sobretudo as partes que vou sublinhar agora...
Oi Nádia,
lindo, muito lindo mesmo. Abraços
Mariana
Aaah, eu gosto mais das três primeiras! Me arrepiam toda...
Oi, Jubi, seja bem aparecida!!!!!!
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