quarta-feira, julho 02, 2008

Ainda o "Romance do Gengi"

A pedido da Eliane, escrevo mais sobre o "Romance do Gengi" de Murasaki Shikibu.

As pessoas começam a usar o seu nome verdadeiro nos comentários que fazem neste blogue. O meu também anda por aí, confesso que não é Nádia.

O nome Nádia agrada-me por o seu diminutivo ser Nadinha. Como sou niilista...


A grande diferença do Gengi (personagem principal do livro) é ser demasiado belo (curiosamente no meu livro também há uma personagem demasiado bela, a Eugénia), ser bom na dança e na música, na poesia de pequenos poemas que todos os cortesãos faziam (Haiku, creio que o plural é Haikai) e nas relações amorosas que mantinha com numerosas mulheres, nunca as abandonando completamente.


Isto faz-me pensar naquilo em que sempre pensei: nos países em que um homem pode ter várias esposas, deve ser considerado normal um homem amar várias mulheres... nem refiro a situação inversa de uma mulher amar várias pessoas, mas parece-me ir dar ao mesmo.

E nós não considerarmos normal que uma pessoa ame várias, será normal? No caso de Gengi, os homens também se sentem fisicamente atraídos por ele (todos) e no fundo também o amam.
Exemplo: o seu sogro, quando a filha morre, lamenta assim a futura ausência do Gengi da sua casa, onde nunca tinha vivido, de resto: "Quando bastava que ele se ausentasse um ou dois dias para me desesperar, como poderei continuar a viver neste mundo se me vir privado da luz que era a minha alegria dia e noite?"


Este livro surpreende-me pela sua actualidade e pela actualidade das questões que pode levantar. No relacionamento entre seres humanos, no modo como podemos ser sensíveis e viver para as artes, no modo como podem ser artísticas as relações humanas...
Ainda no caso da homossexualidade ou mesmo da bissexualidade, parece-nos normal só amar uma pessoa...


O que é isso de amar?
Hoje em dia fala-se do amor universal. Comparado com isso, como é coisa pequena o amor entre duas pessoas. E talvez muito bela por isso mesmo... ou não...

Um comentário:

Anônimo disse...

Carissima,

Cada vez mais interesso-me pela história desse romance. è encantador. Grata pela gentileza.

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no AMOR que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade." Carlos Drummond de Andrade.

Grande abraço
Eliane